sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Manual da beleza Brasileira


O caminho natural da prática é a excelência. Nestes últimos tempos e neste país, onde a preocupação com a estética nos coloca acima de alguns outros tantos, ressalto o desempenho dos beauty-artists ou os maquiadores que nem sempre ficam por trás nos bastidores, e para nossa sorte são sempre entrevistados e sempre estão dando suas dicas para esta porção continental de brasileiras. É sabido que há em nossa raiz uma integração natural com a pintura do corpo e com a própria relação de corpo; do corpo exposto e seus trejeitos sensualistas, ou sua capacidade de enfeite magnetizada por sorrisos faceiros e propositais. Dizem que os índios aqui instalados ab origine ensinaram os colonizadores a banharem se todo dia e os hábitos de higiene mais comuns. Isso faz com que não se estranhe muito as pinturas e a do corpo outro, aquele idealizado por uma beleza roubada da mimética relação da natureza; aí sim, pássaros e outros bichos e toda a flora se incorporam em uma imagem daqui. Nos desfiles vimos modelos exemplares de como qualquer cidadã pode se mirar para se sentir mais bela e mais, vimos como alguns exageros nos deixam com uma equipe de artistas do corpo, reinantes em terras que os valorizam.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Fotografia e desenho de moda - diálogo


Desde o advento da fotografia a questão da reprodutibilidade se multiplica e quando a fotografia chegou ao nível mais ordinário de técnica e impressão, paulatinamente as revistas de moda dedicaram seu espaço a isso, e os desenhistas então, lá pelos anos 80 foram sendo substituídos e até esquecidos. David Hockney, o célebre artista plástico britânico escreveu no prefácio do livro “Fashion Drawing in Vogue” sobre isso e segundo a opinião dele as capas tornaram se iguais pela fotografia, mas o desenhista também perdeu um pouco do seu glamour nos anos 80 e claro associa-se a isso a rapidez entre a fotografia e a impressão, juntamente às notas das celebridades ocupando o espaço e questões publicitárias que viabilizam as publicações das revistas. Bem, quase 30 anos depois a ilustração volta a ter um status mais sólido dentro da imagem da moda. Confere se a isso um certo valor de arte requisitado pela área do vestuário e por outro lado a necessidade de mudar um pouco as limitações fotográficas, digo limitações por que há uma certa equivalência em termos estéticos entre os fotógrafos e o objeto a ser exposto, no caso a moda. Se por um lado há ousadia, esta ousadia banalizou se. A arte da fotografia às vezes está atrás da top model clicada. O que aparece neste fim dos anos 2000 é uma estética com tratamento de imagem virtual, em todo editorial há sempre o crédito do ‘tratamento da imagem’ e junto a isso as poses tornaram se mais anti-naturais, com exageradas torções do corpo, fusão entre corpo e espaço, às vezes um realismo fantástico e qualquer outro recurso que torna a fotografia cheia de adereços a vender ideologias. Nestes termos vejo outra simbiose: a fotografia é muitas das vezes uma representação do desenho ou seja: poses e vestuário tão próximos que muitas vezes a silhueta parece escultórica e bidimensionalizada e é apenas mais uma face de tempos de mudanças de paradigmas. Em 1963 o artista Jack Hamm lança um livro para o ensino do desenho e nele há já este registro entre o que é “certo e errado” em se tratando de poses de desenhos, ou seja há para ele e seus seguidores um juízo de que o exagero da maneira de posar não é correto ou não é natural. Mas ao abrirmos uma revista hoje vemos esta mistura das áreas: fotografia, desenho e passarela na nova estética da velha moda.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Desenho e Corpo - Simbiose possível


Uma observação me vem ao assistir aos desfiles das semanas de moda neste inverno 2010 no Rio e São Paulo e no preview de BH. Há uma busca radical pelo bom desempenho da roupa (o corte e a costura com os aviamentos). Esta perseguição representa de certa forma um amadurecimento dos fabricantes neste período onde, no Brasil germina uma concepção de cultura de moda, digo cultura além do consumo. Nos desfiles há uma leitura bastante interessante do projeto da coleção e projeto refere se ao montante que vigora em seis meses de lojas e vendas, onde a produção é muito maior que a passarela. Nesta espécie de “briefing” visual sinto que a técnica rege a favor e os criadores tentam e conseguem transpor do desenho a uma materialidade. O desenho que aceita tudo, mostra neste momento que é possível sua tridimensionalidade. É quase uma figura de avatar, pois não é natural, entretanto existe e cai à frente dos consumidores que vão se moldando conforme a graça desta aceitação. Claro que é só uma leitura das possibilidades e em tempos de virtualidade isso progride. Pode ser este o embrião de um paradigma para uma marca da segunda década do século XXI. No desfile da Fórum vi tudo isso de forma mais clara: detalhes em tons de pele, recortes pelo corpo e nas roupas, uma geometrização construtiva rigorosa, uma simbiose do ser urbano. Esta herança fica mais clara nos estilistas de São Paulo como Glória Coelho e Reinaldo Lourenço, influência pois de um concretismo, também buscado pela Maria Bonita. Mas há sim este efeito vetorial desta época de profunda relação entre máquinas e homens e seres replicantes.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Passarela - beleza em desfile


Uma peça de roupa carregada de investimento traz em seu corpo quesitos além de modismos. Essa é uma percepção que, as pessoas deveriam adotar ao investirem em grifes assinadas e duradouras, e mais, ao investirem em estilo. Graça Ottoni, que está no mercado há pelo menos 30 anos, trabalha este conceito de durabilidade e beleza, investe na criação em produtos que permanecem no pós tendências e pós desfiles. Em sua última investida no fashion Rio 2010, Graça fez uma das mais belas cartelas de cores da temporada. Um jogo de cromos alegres e nada efêmeros e com a possibilidade de serem usados em multiplicidade de idéias e conjuntos. Este tópico da cartela pensada e bem organizada vai além da formalidade da peça. É um exercício artístico para os olhos. Em tecidos de fibras naturais, a marca tem na sua personalidade a habilidade de deixar o corpo feminino como poucos; a experiência leva a excelência. As modelos passam e deixam um halo de memória, como se fossem vivas esculturas clássicas, um devaneio de beleza renascida.

Estilo a longo prazo - sobre desfiles de moda


Com a, ainda, formação da cultura de moda no Brasil, toda vez que se assiste um desfile por transmissão, ficamos na curiosidade do conjunto e esse conjunto pela sua plástica é que dita a mensagem. Algumas vezes é pouco, digo por que é ao vivo para poucos e em cada roupa desfilada há um sem números de dias trabalhados e mão de obra empregados que passa incólume e na verdade não interessa muito em tempos de urgências e fast fashion. Acontece que algumas peças trazem em sua estrutura elementos próprios de quem trabalha com a estética da forma em seus sentidos mais amplos “formas, cores e composições”. Em dois desfiles da última temporada do inverno 2010 no Rio de Janeiro, e porque pude vê los no processo, percebo isso nitidamente: Na Coven e na Graça Ottoni (claro que todas as grifes trabalham com esses elementos), mas aqui ressalto mesmo é uma excelência no tratamento final. A Coven que prima pelo conceito e trabalha meticulosamente na tessitura do substrato, constrói literalmente tudo (talvez se pudesse Liliane Rebehy faria até os fios), mas faz os tecidos, elege as cores, os jacquards e estampas (seu staff é de artistas plásticos/estilistas). Enfim, o produto é particularmente belo e trabalhado (trabalhoso), com informações de tendências e detalhes que fazem valer a pena vê los de perto. É disso que falo dos desfiles; eles não fazem jus ao todo, e tatear é preciso, ver o jogo das cores e sentir o toque do tricô e seus detalhes faz toda a diferença. Depois de tudo pronto o stylist Pedro Sales compõe a leitura mais formal que fecha o ciclo. Nesta temporada o conjunto cresceu e um risco se fez necessário; compor os penteados com um spray coloridos, um grafite como se fosse um sorvetão de tutti frutti e funcionou bem, um perfume dos anos 80 sem a datação, uma apologia sutil desta tendência. Neste ínterim se olharmos a imagem toda, cima a baixo, conseguimos ver como as partes foram pensadas, mas se tiver a chance de chegar de perto, conseguimos apreciar com outros valores o que é uma roupa com este sentido de moda.